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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Reportagem aborda "Indústria da multa"

Vida Urbana
Recife, domingo, 24 de julho de 2011

(Colaboração de http://mobiliseg.blogspot.com)

O preço que não se paga pela má direção

Quem nunca cometeu uma infração no trânsito, que atire a primeira pedra. Aos 19 anos, o estudante Ivan Viana Júnior admite que já ultrapassou o sinal vermelho e costuma dirigir falando ao celular. Nunca foi multado. E não é o único. Quase 80% da frota registrada no Recife não é multada por uma razão simples: as infrações não são vistas pelos agentes de trânsito. A capital pernambucana não é a única. Em São Paulo, uma pesquisa da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP) calcula que para cada multa aplicada, cerca de 15 mil deixam de ser registradas. No Recife, circulam quase um milhão de veículos e a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) contabilizou, no ano passado, 224 mil multas, que representam pouco mais de 20% da frota que circula na capital. Para os especialistas em trânsito não existe a indústria da multa e sim da infração. Dirigimos mal e na maioria das vezes somos reincidentes.


Uma cena recorrente na Avenida Antônio de Góes, no Pina, é a mudança de pista da Leste para Oeste e vice-versa, feita no cruzamento da Conselheiro Aguiar. A prática corriqueira não é coibida por conta da ausência de agentes no local e de equipamentos que possam registrar a infração. O mesmo acontece na Avenida Domingos Ferreira, também na mudança de pista, de um lado para outro.


Uma das preocupações básicas dos agentes de trânsito é tentar evitar o fechamento dos cruzamentos. No da Avenida Agamenon Magalhães com a Bandeira Filho, três agentes de trânsito se esforçam para permitir a fluidez do tráfego. Nem sempre conseguem. Cada um chega a emitir uma média de 40 multas por dia. Para o agente Lúcio Gonçalves, 40 anos, as multas não correspondem a todas as infrações cometidas diariamente. “Para qualquer lado que a gente olhar tem alguma infração sendo cometida. Se a gente for cumprir a lei, ao pé da letra, não faz outra coisa. Mas estamos aqui principalmente para garantir a fluidez do tráfego”, afirmou.


Ultrapassar com o sinal amarelo e ele ficar no vermelho no meio da travessia é uma das cenas mais comuns nos principais cruzamentos da cidade. Nesses casos, os agentes de trânsito podem multar ou não. Depende da interpretação. “Se o motorista estiver em alta velocidade e o sinal ficar amarelo é mais seguro ele ultrapassar do que frear de vez e provocar um acidente”, explicou o agente Lúcio Gonçalves.


Já os equipamentos eletrônicos existentes só conseguem multar se o motorista ultrapassar a faixa de pedestre com o semáforo no vermelho. Todas as vezes que o sinal fecha nos cruzamentos da Agamenon, há uma uma fila de carros que não consegue concluir a travessia e a maioria sabe que não será multada. “Nós estamos adquirindo equipamentos que vão conseguir flagrar o motorista que ultrapassar no amarelo e o sinal mudar para o vermelho antes da conclusão da travessia”, afirmou Agostinho Maia, diretor de Trânsito da CTTU.


O taxista Cláudio Almeida Pereira, 61, já foi multado em situação semelhante e culpa o trânsito da cidade. “Aqui o trânsito trava de um momento para outro e a gente às vezes fica no meio do cruzamento”. De acordo com o balanço da CTTU, em 2010 foram registradas 124.609 multas aplicadas pelos agentes e 100.775 pelos equipamentos eletrônicos. Especialista em trânsito e coordenador do departamento de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), César Cavalcanti, diz que as multas contabilizadas representam apenas uma fração do que realmente ocorre. O engenheiro e professor do departamento de engenharia da UFPE, especialista em trânsito, Oswaldo Lima Neto, concorda: “Se houvesse mais multas os motoristas teriam mais cuidado, mas na prática o motorista ultrapassa o sinal vermelho com a maior desfaçatez”.






Mudança no ranking das multas
Recife, domingo, 24 de julho de 2011


Avançar o sinal vermelho, uma das infrações mais graves do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que acarreta sete pontos na carteira, é uma das que estão no topo do ranking das multas no Recife. De 2003 a 2009, ela era a primeira no ranking. Do ano passado até agora, vem se mantendo em segundo lugar e perde apenas para velocidade superior à permitida. Esta só passou a surgir no ranking das 10 infrações mais frequentes a partir de 2006 e estava na quarta colocação. Outra mudança no comportamento do motorista pode ser vista em relação ao celular. Em 2003, o uso do aparelho pelo motorista estava na quarta posição e passou para a terceira.


Também fazem parte das 10 infrações mais cometidas o estacionamento em local proibido ou em desacordo com a legislação. Parece inacreditável, também, que a falta do uso do cinto de segurança ainda figure entre as nove infrações mais registradas. Só perde para as conversões à direita ou a esquerda em locais proibidos.


Para o professor do departamento de Engenharia da UFPE Oswaldo Lima Neto, é preciso mais rigor na fiscalização. “É inconcebível, por exemplo, que as lombadas eletrônicas sejam desligadas à noite. É nesse horário que os filhinhos de papai dirigem com mais velocidade e aumentam o risco de acidentes”.


O diretor de trânsito da CTTU, Agostinho Maia, concorda que a falta de punição é um dos fatores que favorem a indústria da infração. Ele critica os valores das multas que, segundo ele, são muito baixos. “Para um motorista que estaciona irregularmente na Avenida Agamenon Magalhães e atrapalha o trânsito, a multa é de apenas R$ 85, mas se fosse R$ 500, ele pensaria duas vezes. Ele acredita que o aumento do valor da multa ajudaria a reduzir as infrações. “Não tenho dúvida de que se o valor da multa aumentar os órgãos de trânsito vão sofrer uma redução na arrecadação”




Variáveis para uma fiscalização eficaz
Recife, domingo, 24 de julho de 2011


Entre as principais capitais do Nordeste, Recife é a cidade que aplica menos multas; Fortaleza, a que mais notifica. Números de Salvador não correspondem ao aparato mobilizado no trânsito.
A cidade que registra o maior número de multas no trânsito é necessariamente a que tem pior motorista? Não é assim tão simples. O Diario foi em busca dos números no trânsito das três principais capitais do Nordeste, Recife, Fortaleza e Salvador, e comparou o tamanho da frota, o número de agentes de trânsito, a quantidade de equipamentos eletrônicos que cada cidade dispõe para monitorar o tráfego e, finalmente, quantas multas são aplicadas por ano. Das três, Fortaleza é disparada a que mais multa. No ano passado, a capital do Ceará aplicou 518.232 multas, Salvador vem em segundo com 391.094 e Recife com 225.384 multas em 2010.


Na análise dos números é preciso levar em conta outros aspectos. O Recife, que tem o menor número de multas aplicadas, é também o município com o menor número de equipamentos eletrônicos. São apenas 48, sendo metade de lombada eletrônica e a outra de fotossensores para uma frota de mais de 500 mil veículos. Em relação ao número de agentes, o Recife vem dando um salto significativo. Desde de 2003 eram 290 agentes. Este ano, o número passou para 400 agentes e a meta até o fim do ano é chegar a 600. “É claro que precisa sempre melhorar, mas pela primeira vez o trânsito está sendo encarado como um problema grave que demanda investimentos”, afirmou o diretor de trânsito da CTTU, Agostinho Maia.


Fortaleza, que tem uma frota de 200 mil veículos a mais do que o Recife, é também a que mais investiu. Lá são 248 equipamentos eletrônicos que ajudam no monitoramento do trânsito. Desses, 166 são semáforos multifuncionais que conseguem identificar avanço de sinal, conversão irregular, retorno e parada na faixa de pedestre. Qualquer uma dessas infrações e o motorista é multado. Não por acaso, os equipamentos eletrônicos na capital cearense multam mais do que os agentes de trânsito, ao contrário do que ocorre no Recife. Em Fortaleza, os 248 equipamentos multam 100 mil a mais do que os 375 agentes. “No ano passado nós tivemos mais de meio milhão de multas aplicadas. A gente multa mais porque fiscaliza mais”, ressaltou o presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC), Fernando Bezerra. Segundo ele, o maior desafio é a educação no trânsito. “Se tivéssemos motoristas mais conscientes, o fluxo seria melhor e teríamos menos multa. Ainda é muito comum os estacionamentos irregulares, que atrapalham o trânsito”, crititou.


Das três capitais do Nordeste, o município de Salvador é proporcionalmente o que menos multa em relação ao aparato que dispõe. A capital baiana tem 541 agentes de trânsito e o Recife, até o ano passado, 290. Nesse período, a média de multas por agentes em Salvador foi de 262 por ano e Recife 429 por agente.
Quase o dobro. Já em relação aos equipamentos eletrônicos, Salvador tem quatro vezes mais o número de equipamentos do Recife. Um total de 192 contra 48, mas multa apenas 2,4 vezes mais. Em 2010, foram registradas em Salvador 8,2 mil multas por mês e na capital pernambucana 3,3 mil.




O mito da indústria da caneta
Recife, domingo, 24 de julho de 2011


Talvez não seja culpa do motorista a propagação do mito da indústria da multa. Ninguém gosta de ser surpreendido por um agente de trânsito que fica escondido à espera dos infratores. Esse modus operandi acabou criando o estigma de que os agentes só têm em mente a multa. A conversão irregular no cruzamento da Agamenon Magalhães com a Bandeira Filho é exemplo dessa prática. Uma placa na avenida, no sentido Recife/Olinda, indica que é proibido entrar à esquerda. Mas sempre há um motorista que prefere encurtar caminho. Do outro lado da via, pelo menos três agentes fiscalizam o trânsito no cruzamento e os infratores, quase sempre, são flagrados e multados. “Acho que a função do agente de trânsito deveria ser a de orientar o motorista e não ficar escondido para aplicar a multa depois que a infração é cometida”, afirmou o taxista Cláudio Almeida Pereira, 61 anos.


O diretor de Trânsito da Companhia de Trânsito de Transporte Urbano do Recife (CTTU), Agostinho Maia, admite que há erros nos procedimentos, mas faz uma ressalva. “As pessoas que reclamam das multas, em geral, são as que praticam infrações. Mas é claro que há erros e nós estamos sempre trabalhando para evitar que os erros acontençam”, afirmou.


Sobre o modus operandi dos agentes, Agostinho Maia explica que não deve ser a prática ideal e faz também uma ressalva. “Muita gente diz que os guardas deveriam orientar sobre as leis de trânsito. E eu digo, se você é habilitado para dirigir, tem obrigação de conhecer as leis de trânsito e as cumprir. Se cada um fizesse sua parte não precisaria de fiscalização”, conclui

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